quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dicotomia

Alguém uma vez me disse que as pessoas vieram ao mundo divididas em dois grupos diferentes definidos pela vocação:
parte delas teoricamente advinda de uma nuvem ou pó de estrela ou qualquer entidade mágica do raio que o parta, teria aterrissado por essas bandas pra espalhar o amor, a compreensão, afeto e demais energias denominadas do bem.
Esses são os Yang.

A segunda parcela evoluiu do limbo, rastejou durante algum tempo, e foi empurrada pelo progresso em direção a algum tipo de existência, e está por aqui pra atrasar o processo todo mesmo. São os Yin. Suspeito hoje que boa parte deles trabalhe em repartição pública ou no 190.

Prefiro acreditar que vivo no limite desses dois tipos, e como qualquer pessoa que vive no limite, na tentativa constante de manter o equilíbrio, vivo sempre temeroso de cair pra um dos lados. Mas de uma coisa eu me orgulho: estar nessa posição me permite ver a realidade como ela é.

É mais ou menos o que dizem desses gênios por aí que ficaram malucos, antes disso eles provavelmente tiveram um vislumbre de algo tão magnífico, ou pavoroso, que os empurrou totalmente pro outro lado do muro.

Há uns 3 anos, enquanto ainda fazia faculdade, acreditava com muita força ser uma pessoa positiva: Bom aluno, Wannabe-leader e tudo o mais que se pode esperar de algum entusiasta. Até então, nunca tinham me cobrado de algo pelo qual eu sou estapeado hoje: ser agressivo.

Isso porque em publicidade, tudo que se espera é que uma pessoa seja agressiva o suficiente pra prospectar, manipular, convencer e o pacote todo. Dias atrás eu sonhei que alguém me pedia pra bater em outra pessoa, e eu não conseguia responder ao estímulo.

" É fácil. Um ou dois socos. Hematomas. Sem grande prejuízo." E algo me travava. Eu sempre preferi matar a mim mesmo, ou encontrar alguém que mate por mim. Até agora não tem sido difícil. Bem lembrado, até agora.

Eu poderia dizer que não tive ninguém que me ensinasse e inventar qualquer porra de desculpa a respeito, mas é impossível ignorar cada uma das vozes que me disse tempos antes que eu precisava aprender a bater. Lembro do colégio, quando tive uma daquelas brigas de roda. Todos gritando ao redor de duas crianças que não sabiam nem o porque estavam prestes a um embate. Saí sem um arranhão, bati bastante no adversário (ele saiu com o nariz sangrando), e saí chorando ensandecido em busca de quem me ouvisse, e me absolvesse do peso que estava sentindo.

Acho que é isso, ser agressivo, ao invés de realista, sempre me trouxe muita culpa, pois representa pisar em um dos lados da balança pra que ela pese pro seu lado. Isso me fez Yin durante muito tempo.

Eu nunca quis tomar nada pra mim sem que o concedente me desse de forma espontanea e por mérito próprio. Até agora.
Pois se eu não começar a pisar nessa balança, alguém do outro lado vai.