segunda-feira, 20 de julho de 2009

O limite do eu, o limite do outro

É incrível como o medo pode fazer a gente se omitir.
Eu tenho medo de muitas coisas e, na verdade, não é algo que me derrube do dia pra noite. De fato, há quem diga que o medo é algo que nunca passa e, ainda por cima, pode ser bom, pois te mantém vigilante.

Dentro de uma sociedade na qual são raras as pessoas seguras de si, ninguém, por medo, é si próprio plenamente, pois implicaria a renúncia da percepção alheia em relação ao mundo...mas o que realmente vem a ser um problema é o excesso de insegurança.

Pense em quantas personalidades você já "roubou", quantas pessoas você já imitou ou, em determinada situação, perguntou o que essa pessoa, seu referencial, faria naquela ocasião.

Usa-se a personalidade alheia como endosso para fazer parte de uma massa, e em instantes vê-se o mundo separado em grupos, e os grupos em hierarquias com mandantes e mandados. Quem se impõe cria um novo grupo, pois dificilmente um "comandante" divide seu posto ou permite que alguém lhe questione a autoridade. O que ele faz ou pensa se propaga entre os seus iguais, tal qual a luz que se espalha sobre objetos diversos, diferentes entre si, mas constituintes de um mesmo universo.

Essa luz, às vezes, é forte demais, e não permita à visão a diferenciação de traços e contrastes, preenchendo tudo uniformemente: uma só opinião, um só estilo, um só peso.
A identidade se perde em meio aos mesmos tons e gostos, e já não é mais possível confrontar a massa. Seria duelar consigo.

Há de se saber o momento certo de ser luz, e de ser sombra, ou de ser apenas um nuancezinho vagabundo de background. Impossível mesmo é crescer omisso sob o clarão, ou recluso no total escuro, pois se isso te protege do pavor de ser você mesmo, certamente não te poupará da tristeza de, dentro de um grupo, ser qualquer um.

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terça-feira, 7 de julho de 2009

Relação

Às vezes a gente reclama do volume do rádio alto, da gritaria das crianças na sala, às vezes a gente reclama do tempo e do clima, e às vezes nossa maior preocupação o valor de câmbio do Dólar.

Ás vezes a gente aumenta o volume do rádio no último, grita com crianças quietas, usa a chuva como argumento de filme velho, e as horas como argumento para dividir e medir existência em dias, semanas, meses e anos. E a sua preocupação, um dia, com certeza vai ser maior com aquilo que teu filho sente febril na cama do que com a imensa quantia de dinheiro que você está gastando para resolver.

Às vezes não há rádio, às vezes não há crianças, e o clima é seco e angustiante, que tamborilamos com os dedos, como se tivéssemos, com eles, o poder mágico de fazer o tempo passar mais depressa. Ainda sim, não há recompensa maior do que a espera, e nesse caso nada se pode fazer.

E quando não se sente falta do som e o clima indifere, o tempo é arma apontada para nossa cabeça, as crianças continuam saudáveis, e ao coletar matéria ao longo do caminho, ficamos débeis.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Drowned by tongue


.Olhos abertos, os números vermelhos do rádio relógio indicam 5 da manhã.


"Ontem fui me deitar bem mais cedo que de costume, não me surpreende que eu tenha acordado agora. Bom, vamos ao que interessa. Durmo com o isqueiro no bolso há mais de 2 dias, apesar de isso ser desleixo meu [o que custa colocá-lo na prateleira?] hoje isso é bom, não terei que acender as luzes para sair daqui.

Vamos ver se o joelho me ajuda a sair da cama. Uhm, well, nada mal, mais um pouco de repouso, mais um pouco daquelas medicinas receitadas e de doses concentradas de bom senso e provavelmente eu vou conseguir viajar no final de semana. Meus pais sentem minha falta, e eu deles, mas como sempre vai ser outra viagem onde eu carrego uma mala imensa cheia de coisas pra lavar.

Ok. Escadas, vamos ver como você reage agora...não flexionar muito....descer de degrau em degrau. Bom, muito bom."


.Luzes da cozinha acesas.


"Minha garganta está estranha hoje...muito estranha. Ela dói, desa mesma forma, quando estou com gripe. Deve ser culpa do Rogério, que deixou a janela do quarto aberta boa parte da noite, aquele [-!-] ai, tosse. Isso pode ser começo de uma inflamação. Bom, já sei, vou esquentar água. Ela e um pouco de sal darão conta de limpar."


.Café da manhã.


"Bom, melhor eu esquentar o leite, ou esse maldito pigarro [-!-] poxa....essa tossa não vai passar. Sempre gostei de leite quente com torradas mesmo. Acho que só não tenho esquentado por preguiça. Minha vida seria tão melhor se eu não fosse preguiçoso, poderia acordar todos os dias às 5, e ir pra academia, ao invés de manter essa forma decadente e filha da [-!-]....ok, entendi, hoje vai ser necessário
comprar pastilhas pra garganta.

Vou pro banho, depois terei de enfaixar o joelho de novo, não quero que ele fique com o tamanho que estava ontem, e também não quero ir trabalhar às pressas. É mesmo uma [-!-] ai, uma m.[-!-] ficar doente. E essa dr[-!-] dessa tosse ? Vou ter que tolerar o dia todo."


.Banho.


"Minha garganta realmente não tá legal...isso é estranho, eu estava muito bem, fora o joelho e agora essa crise de tosse. Bom, pelo menos a água aqui está bem agradável. Dia desses liguei o chuveiro e algum filho da [-!-] ai, que [-!-], vou na farmácia assim que terminar de me arrumar. Enfim, as pessoas aqui devem ter alguma reação térmica incomum pra trocar a temperatura da por[-!-] do chuveiro [-!-], custa
[-!-] deixar [-!-] essa [-!-] p[-!-] ligad[-!-].

Ai caram[-!-], es[-!-]ou com f[-!-]lta d[-!-] ar. Dro[-!-]a d[-!-] t[-!-]sse m[-!-]dita [-!-][-!-][-!-] pr[-!-]cis[-!-] s[-!-]ir daq[-!-]i. Ai, s[-!-]corr[-!-], [-!-] [-!-] [-!-],[-!-]ocor[-!-]. M[-!-] t[-!-]rem d[-!-]q[-!-]i po[-!-] f[-!-]vo[-!-]! R[-!-]gé[-!-][-!-]o, s[-!-]c[-!-]rr[-!-], n[-!-]o c[-!-][-!-][-!-]igo f[-!-]la[-!-].Dr[-!-]g[-!-], [-!-]drog[-!-] de t[-!-]sse [-!-][-!-][-!-]!!!!

[-!-][-!-][-!-] no chã[-!-], [-!-]or fav[-!-], aj[-!-][-!-]em, [-!-]e le[-!-]em p[-!-]o h[-!-][-!-]pi[-!-]. M[-!-][-!-] q[-!-][-!-] mer[-!-][-!-], nin[-!-][-!-][-!-] [-!-]e o[-!-]v[-!-].....[-!-][-!-][-!-].

Pr[-!-][-!-]o sa..i.r d.a...q.u[-!-]i [-!-][-!-]...[-!-][-!-][-!-]
P...r[-!-].ee..c.is....[-!-][-!-]o saa[-!-][-!-]...i[-!-]r d.[-!-][-!-]....aaq[-!-]ui[-!-][-!-].

P[-!-][-!-][-!-]so saa[-!-]...r......[-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-]. P.ree..[-!-]...[-!-][-!-][-!-][-!-]..........[-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-][-!-]....................................................
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.Os números vermelhos do rádio relógio indicam 8:00.
.O joelho, outrora inchado, já não é importante.
.a tosse passou.
.ninguém está acordado.
.a tez sem vida vai se acinzentando, no chão do banheiro.
.tried to grasp among the evil thoughts, the evil world, the evil mouth.
.they won't let you breathe, they won't.

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